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Google Images | Danka Maia |
“Existem coisas que simplesmente excedem o nosso entendimento. Crescemos crendo piamente que um belo dia alguém mágico surgirá com a privilegiada tarefa de nos fazer felizes eternamente, sem dar a menor bola para o fato de que o "para sempre" pode não durar nada. E quando a gente espera, espera e espera e a tal pessoa nunca vem? O que a gente faz? Para quem apelamos?”.
Foi assim que Malu terminou seu
programa de rádio naquele dia no fim da madrugada. Saiu do estúdio, despediu-se
de Júlio, o fiel escudeiro sonoplasta, apanhou o sobretudo para enfrentar as
ruas frias da ilha de Manhatam, jazia ali quase quinze anos, fora com vinte
para Estados Unidos atrás do bom e velho sonho americano, e depois de muito
trabalhar acabou mexendo com que mais gostava, o ato de se comunicar com sua
voz inconfundível. Tornara-se então a locutora das noites solitárias na rádio
da comunidade brasileira. Era muita conhecida pela sua espontaneidade, o jeito
simples de falar das coisas que sentia e de certo modo por adivinhar aquilo que
os outros imigrantes sentiam quando estão longe da terra natal. A vida fora de
seu país é muito solitária, dificuldades com a língua, costumes, princípios...
Enfim, leva-se um tempo para se adequar ou meramente não se acostuma.
Voltando pelo metrô naqueles vagões
vazios e com expressões tão abandonadas quanto, percebeu que era mais uma. Chegou
em casa, uma pequena kit net porém, bem arrumada correndo preparar o café. Um
ritual que adquirira dado o tempo em que vivia sozinha. Malu guardava uma velha
lata de café que apelidava de "Dum". E quando só, conversava com a
tal lata. Era um tal de Dum para lá, Dum para cá. Entretanto, em tempo algum
revelou a ninguém quem fosse o Dum. Para os vizinhos dizia-se casada com tal
Dum, embora nenhum deles jamais o vira, a certa discrição que envolve as
pessoas fora do eixo Latino não despertava saber quem ou como era o tal
companheiro da sempre e tão simpática Malu que todos sem exceções gostavam e
admiravam.
Malu fora do prédio, em
suas idas ao cinema, teatro, food trucks,
procurava o tal homem de sua vida. Aquele que Dona Aurora, sua mãe, lhe avisara
que um dia atravessaria seu caminho com a missão de fazê-la a mulher mais feliz
do mundo. Muitos candidatos surgiram. A regra número um para os “Felizes Para
Sempre" é se permitir ou deixar ser encontrada, e nessa permissão nem
sempre o Príncipe é Príncipe, na verdade, na maioria das vezes são sapos. Mas,
também às vezes é preciso compreender que os sapos possuem a sua beleza. Nem
tudo que reluz é ouro, assim como nem tudo que é feio é ruim.
O tempo foi passando e
com ele vários "Duns". Houve Dum loiro, moreno, alto, baixo, gordo,
magro, careca, cabeludo. Mas o próprio verbo auto se autoconjuga... Houve. Jamais
se conjugou: Há.
E a cada Dum que passava pela vida de
Malu dentro daquela lata de café onde se encontravam suas memórias, ela ia
depositando um pouco deles. A inteligência de um, o carinho do outro, assim
como seus defeitos, os ciúmes, o egoísmo, a intolerância. De algum modo ao
longo dos anos Malu colecionou e acabou internamente construindo o seu Dum
ideal, ou seja, a velha e boa lata de café. Com ela estava pronta para então
ser feliz para todo o sempre.
Agora volto ao cume desta
crônica: E quando a gente espera, espera e espera e a tal pessoa nunca vem? O
que a gente faz? Para quem apelamos?
Você deve estar pensando: Certamente não para uma lata de café! E a resposta é de certo a correta, mas, onde você tem depositado as suas memórias? Onde estão às características daqueles que passaram por sua vida? Os que te amaram ou os que você amou ou que seja, os dois?
Você deve estar pensando: Certamente não para uma lata de café! E a resposta é de certo a correta, mas, onde você tem depositado as suas memórias? Onde estão às características daqueles que passaram por sua vida? Os que te amaram ou os que você amou ou que seja, os dois?
Lembra-se dos sapos que
citei? Sim, sapos não tomam café. O que você pensa quando
vê um sapo? Você imagina uma criatura verde, pequena, mal cheirosa, sentada na
lama? A maioria das pessoas imagina e é por isso que os sapos se tornaram
animais indesejados para muita gente. Mas isso está muito longe de ser verdade.
Sapos são animais fascinantes, que vivem em muitos lugares. Sapos
ouvem tanto quanto a gente, com a diferença que o tímpano deles fica do lado de
fora do ouvido.
Sapos são animais de
sangue frio, ou seja, não reagem e nem se desgastam na primeira reação,
explosão não é com eles. Sapos são românticos. Coaxam para atrair
suas amadas durante a época de acasalamento. Alguns sapos conseguem coaxar
mesmo estando debaixo d’água! Sapos são persistentes e quando eles querem
coaxar bem alto, enchem o saco mesmo, contudo não desistem de quem se ama.
Nessa altura do campeonato
eu pergunto: Será melhor uma lata de café ou um sapo nada encantado? Como disse Orison Swett Marden:
Não
espere por oportunidades extraordinárias. Agarre ocasiões comuns e as faça
grandes. Homens fracos esperam por oportunidades; homens fortes as criam.
Que a nossa lata de café
seja apenas para o que foi criada: Guardar o pó do café, nada mais.
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